terça-feira, 23 de março de 2010

“Every year is getting shorter, never seem to find the time…” - Time; Pink Floyd.


Mais uma vez, meu sono é interrompido pelo som estridente do despertador: 6:00 horas da manhã. Não me recordo a última vez que dormi um sono tranqüilo, sem hora para acordar, sem despertador. Com o corpo cansado de quem dorme pouco há vários dias, levanto. O final de semana, tão esperado por aqueles que trabalham, não me deu nem um alívio; as obrigações não me deixam nem nos dias que deveriam ser de descanso.

Tomo um banho rápido, me falta tempo até para apreciar a água caindo em meu corpo. Escolho uma roupa qualquer, engulo o café da manhã e saio. Correndo. Dois ônibus me esperam. Não posso chegar atrasada, ou pelo menos, não muito atrasada. Chefe não quer saber se você vai de ônibus, se está chovendo ou se não acordou disposto, problema seu.

Enfim, com alguma sorte, sento em um dos ônibus. E passo o trajeto – longo - observando as pessoas, o movimento, à cidade acordando.

No trabalho, são papéis e pilhas e mais pilhas de processo. Desorganização. Cumpro aquilo que me foi determinado e tento – todos os dias – organizar nem que seja um pouco aquela zona, um mínimo de organização facilitaria tanto a minha vida, os meus braços agradeceriam profundamente.

Como eu costumo dizer: o mundo está caindo em água; chuva, muita chuva e justamente na hora de ir embora. Vou para o ponto de ônibus e mordo a língua para não xingar de todos os nomes feios que conheço, os motoristas folgados que não desviam das poças d’água.

Almoço e aí tenho uma meia-horinha de descanso, que eu tenho a impressão que passam em segundos. Chega! Volto às obrigações. Estudar, estudar, estudar. Provas, trabalhos, relatórios. E o tempo é pouco, textos ficam pela metade da leitura.

Essa rotina tem me deixado exausta e tirado o meu humor. Tudo isso na incerteza, sem saber se todo esse esforço será recompensando um dia. Bom, são os meus objetivos, então quem tem de lutar por eles, sou eu. Então, que venha suor, lágrimas, noites mal dormidas e ônibus lotados.

Mas, sinto falta de tempo livre. Tempo para ler os livros que comprei, tempo para ouvir as músicas que gosto, tempo de ligar a televisão, ir ao cinema, ficar em casa sem fazer nada, curtir as pessoas que gosto. Um tempo de lazer, de descanso.

Aula à noite, esforço-me para conseguir absorver o conteúdo e vou conciliando outras matérias, lendo os textos que não li.

Mais dois ônibus, chego em casa, já são 23:00 horas. Banho, lanche e mais uns minutinhos de estudo. E finalmente, cama. Apago de exaustão e às 6:00 horas começa tudo outra vez, iniciado pelo barulho irritante do meu despertador.


domingo, 14 de março de 2010

"Abraçar é encostar um coração no outro." *


Há dias que eu acordo com uma vontade que não cabe em mim, de tão grande que é. Vontade de um abraço, vontade do seu abraço. Nunca dei muita atenção para abraços, não que eu não gostasse, muito pelo contrário, mas depois de você o abraço tornou-se uma das melhores coisas do mundo, aí que está, eu não havia – ainda – encontrado quem me abraçasse com tanto carinho e proteção, que me fizesse esquecer o mundo.

Às vezes, é disso que preciso, esquecer o mundo. Esquecer a correria do dia-a-dia, todos os problemas. E fazer dos seus braços o meu porto-seguro, o meu abrigo, a minha morada. É em seus braços que eu me acalmo, que a respiração desacelera, que eu me sinto segura, que eu me sinto feliz.

Mas, não é só nos momentos tristes e angustiantes que eu quero seus braços, quero um abraço para poder dividir a felicidade que eu estou sentindo, quero o abraço para matar a saudade que me martirizou o dia todo.

Esses dias de vontade louca, eu quase que não me agüento. Olho no relógio a cada cinco minutos e rezo para que o tempo voe, para que eu possa te ver o mais rápido possível. Aí quando nos encontramos, não preciso de mais nada, nem palavras, nem beijo, basta o abraço.

Se lembra quando estávamos caminhando juntos e você olhou para os fios de eletricidade e me mostrou um casal de passarinhos? Então, lembra-se o que você falou? Que éramos nós dois lá, juntinhos. E que só não era perfeito, porque pássaros não têm braços. Eu fiquei pensando nisso o resto do dia.

É assim que eu me sinto, um passarinho. Delicada e pequenina. Só que diferente dos pássaros, você me acolhe, me protege e cuida de mim em seus braços. Eu me aninho neles.

O abraço é transmissão de carinho, de amor, de coisas boas. O abraço muda meu humor, muda meu dia.

Me abraça, amor?



* Rita Apoena




segunda-feira, 8 de março de 2010

Para nunca desistir de ser mulher



"Coloque um espelho no meio do meu caminho entre a lavanderia, o supermercado, o sapateiro, o colégio e a locadora. E que, ao me olhar, eu goste do que veja. Não deixe que eu passe uma semana sem usar um esmalte bem vermelho, uma bota bem alta ou um jeans bem justo. Proteja meus cachos do vento e os brincos dos olhares invejosos. Que nunca faltem em minha vida comédias românticas e boas depiladoras. Deixe que eu fecho os registros e as janelas. Mas, por favor, abra algumas portas. Se eu estiver com vontade de chorar, faça com que eu chore um dilúvio. E que tenha saído de casa sem pintar o olho. Para cada dia de TPM, me dê uma vitrine com sapatos lindos. Já que nunca pedi milagres, faça com que minhas celulites sejam ao menos discretinhas. Me dê saúde, tempo livre, silêncio. E um dermatologista de confiança. Também vizinhos tolerantes que não perguntem por que eu corro na esteira depois da meia-noite. Dê forças para eu insistir que meus filhos comam salada, digam obrigado, limpem a boca no guardanapo, façam as pazes e puxem a descarga. Cegue meus olhos para as sujeiras nos cantos e os brinquedos no meio da sala. Não deixe que a minha testa fique franzida como uma saia plissada. Ajude para que eu chegue do trabalho e ainda consiga brincar, fazer “cosquinha”, pintar dentro da linha preta. E se eu não tiver a menor condição de me manter em pé, faça com que as crianças voltem dormindo da escola. Dê firmeza para os meus seios e os meus argumentos. Entenda se eu pintar as unhas e roer tudo depois. Faça com que o sol seja meu personal trainer, meu complexo de vitaminas, meu carregador de bateria - mas quando eu pedir um diazinho de chuva, não pergunte por quê. Afaste os homens que não elogiam e os que buzinam antes de abrir o sinal. Proteja minhas poucas horas de sono e não me julgue mal caso eu não acorde de madrugada para cobrir meus filhos. Que o trabalho não seja bom somente no dia do pagamento. Para cada batata quente, me dê um café recém-passado. Ilumine o espelho do banheiro e proteja minhas pinças, meus cremes e segredos. Entenda quando eu rezo para cancelarem uma reunião - não é gastar reza à toa, pode ter certeza. Faça com que eu siga a dieta e a intuição. Ajude a não faltar gasolina, não furar pneu, não arranhar calota. E afaste os motoqueiros do meu retrovisor. No meio de tudo isso, faça com que eu ache tempo para virar namorada, ir ao cinema, jantar fora, beijar na boca, dormir abraçadinha. Por mais complicado que seja o meu dia, faça com que ele termine. E não eu."



- Magali Moraes


sexta-feira, 5 de março de 2010

“Eu te amo, repete sozinho para o escuro toda noite, pouco antes de seu corpo dissolver-se na espuma do sono, eu te amo." *


O amor só aconteceu uma vez. E há tantos anos. E eu, tolo que fui, deixe-o passar. Quanto arrependimento! A vida seguiu-se em ritmo de samba antigo, lenta e triste. O curso da vida de cada um tem trilha sonora, em alguns é um samba antigo, como na minha; outros, tiveram o privilégio de ter a vida ao som de samba de gafieira. Enfim, cada um escolheu - ou não - a sua música, mas isso não vem ao caso.

A vida sem amor é triste, melancólica, aliás. Não falo de amor familiar, pois esse eu tive. Falo do amor de uma companheira que eu não tive. Todas as minhas incontáveis horas de vida foram vazias, ocas. É o vazio que assola minha alma e meu coração e transparece no olhar. E os mais atentos ficam somente na curiosidade, a tristeza é minha, a história também.

Jovens que éramos, fizemos juras e mais juras de um amor eterno, planos de uma vida a dois. Casamento, filhos, envelhecer juntos. Ela era linda. Branquinha dos cabelos negros. Machado de Assis, se a tivesse visto, teria descrito Capitu e os seus olhos de ressaca pensando na minha Capitu.

Foi minha. Minha amada. Pena que não pelo tempo que eu esperava, que nós esperávamos.

Uma briga foi suficiente. O amor não se desfez, nem em mim e nem nela – pelo menos, não naquele momento, no que se refere a ela. Já em mim, não se desfez nunca, como já perceberam, provavelmente. Guardei o seu último olhar, - pois foi nesse dia a última vez que a vi -, tristeza, decepção e muito amor.

Falhei, falhei com a única pessoa no mundo que não merecia falhas. Intolerância minha. Ciúme, falta de confiança. Mas, infelizmente, na hora eu não percebi isso, fui perceber muito tempo depois. Tarde demais!

E hoje fico com as recordações, com as fotografias, com as cartas que trocamos, releio-as várias vezes ao dia, mistura de culpa e nostalgia. Ainda guardo seu cheiro, ainda sinto o gosto dos seus lábios, da sua pele. Ainda sei de cor a sua voz, o som da sua risada. Mas, recordações não substituem e nem se comparam à presença diária de quem se ama, apenas acalentam um coração aflito.

Lembro-me exatamente do dia que antecedeu a briga fatídica. Conversamos em um banco do parque e ela me fez prometer que ficaríamos juntos para sempre, pediu que eu a olhasse nos olhos e jurasse. Jurasse amor eterno. Foi o dia que vi mais sinceridade, amor e esperança em seu olhar. Esse dia me marcou profundamente.

Talvez, por isso, eu volto, todos os dias a exatamente 50 anos, esperando-a. O reencontro nunca aconteceu. Mas, eu volto, religiosamente, a esse mesmo banco do parque, faça chuva ou sol. Jurei amor eterno e não faço outra coisa a não ser esperá-la e amá-la. É amor para além de uma vida. Quero revê-la e dizer: Me desculpe, eu te amo!



* Caio Fernando Abreu (alterado)